A instalação de uma estátua de Lúcifer em um santuário mantido em sigilo na cidade de Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre, tem provocado intensas reações e levantado sérias preocupações. O monumento, que atinge cerca de 5 metros de altura e pesa uma tonelada, foi encomendado por uma ordem religiosa cujo líder, Mestre Lukas de Bará da Rua, afirma que o espaço será inaugurado no dia 13 de agosto, em uma cerimônia restrita exclusivamente para membros.
O Santuário e a Ordem: Mistério e Exclusividade
A decisão de manter a localização do santuário em segredo, supostamente por questões de segurança, levanta questões sobre a transparência e as reais motivações por trás desse empreendimento religioso. O monumento, que custou R$ 35 mil e foi produzido em cimento por um ateliê especializado, é descrito por seu idealizador como uma representação da dualidade entre o humano e o espiritual, materializada na figura de Lúcifer. No entanto, a insistência em manter em segredo tanto o local quanto os detalhes das práticas religiosas realizadas ali, aumenta a curiosidade e o ceticismo da população.
A ordem, fundada por Mestre Lukas e Tata Hélio de Astaroth, conta com cerca de 100 membros em todo o Brasil, dos quais 80 estão no Rio Grande do Sul. As reuniões da ordem são realizadas duas vezes por mês e agora terão como sede a propriedade onde a estátua foi erguida. Os membros, que só podem ingressar na ordem mediante indicação de quem já faz parte, têm se dedicado a desmistificar a figura de Lúcifer, que consideram injustamente demonizada pela Igreja Católica.
“Para nós, Lúcifer é um deus, o portador da luz e do autoconhecimento”, explica Mestre Lukas. Entretanto, a visão da ordem, que busca desconstruir uma imagem negativa amplamente difundida, não tem sido bem recebida por todos. As práticas e rituais associados à ordem, que incluem invocações de energias ancestrais, têm gerado desconfiança e até medo entre os que desconhecem as nuances dessa abordagem espiritual.
Controvérsias e Reações: Liberdade ou Desrespeito?
A instalação da estátua de Lúcifer gerou uma forte divisão na opinião pública, especialmente nas redes sociais. De um lado, defensores da liberdade religiosa aplaudem a iniciativa como uma expressão legítima de crença em um país laico. De outro, críticos veem na construção do santuário um desrespeito aos valores religiosos predominantes na sociedade, o que tem alimentado uma onda de protestos online.
As críticas incluem alegações infundadas de que o projeto teria sido financiado com dinheiro público, uma acusação que foi prontamente refutada tanto por Mestre Lukas quanto pela Prefeitura de Gravataí. A administração municipal, em uma nota oficial, afirmou não ter conhecimento prévio da criação do santuário e garantiu que não houve qualquer vínculo ou financiamento por parte da prefeitura. A nota, no entanto, não conseguiu apaziguar as preocupações de parte da população, que vê com desconfiança a presença de um monumento dedicado a uma figura historicamente associada ao mal.
Contexto Religioso e Repercussões
A polêmica em Gravataí não é um incidente isolado. A Região Metropolitana de Porto Alegre já testemunhou episódios semelhantes, como a instalação de uma estátua de Baphomet em Alvorada, em 2023, que também gerou discussões acaloradas. A líder religiosa por trás daquela estátua, Michelly da Cigana, defendeu sua escolha como uma força espiritual positiva, mas, assim como o caso em Gravataí, a iniciativa não foi isenta de críticas e suspeitas.
Além disso, em maio deste ano, o mesmo Mestre Lukas esteve envolvido na criação de um monumento dedicado a Exu, também em Gravataí, o que reforça sua posição como uma figura central na promoção dessas práticas religiosas alternativas na região. Tais manifestações religiosas, embora defendidas por seus praticantes como expressões legítimas de fé, continuam a desafiar normas sociais e a gerar desconforto em um país onde o cristianismo ainda predomina.